O que é o plástico rPET?
A abordagem da sociedade à gestão e reciclagem de resíduos evoluiu consideravelmente ao longo dos anos, com um maior enfoque na sustentabilidade, na economia circular e em materiais recicláveis. As garrafas de bebidas plásticas são um exemplo chave, sendo que nos últimos anos tem-se verificado um foco particular na utilização de materiais mais sustentáveis para estes recipientes, tais como o plástico rPET.
Compreender o plástico PET e rPET
Para entender o que é o rPET, devemos primeiro entender o PET (politereftalato de etileno), o material do qual origina o rPET.
O PET, juntamente com o HDPE (polietileno de alta densidade), é um dos materiais mais comuns para o fabrico de recipientes plásticos para bebidas. A versatilidade e durabilidade do material também o torna uma escolha preferida para uma série de outros usos, particularmente em embalagens.
O PET é produzido com recurso ao petróleo, um combustível fóssil, e é necessário um quarto de litro para fabricar apenas uma garrafa de um litro de plástico virgem. Quando consideramos que são vendidas mais de um milhão de garrafas de plástico a cada minuto, concluímos que são necessárias grandes quantidades de petróleo para acompanhar a procura.
Por outro lado, o rPET é PET reciclado. Trata-se de PET que já foi usado pelo menos uma vez, reciclado e colocado de volta em uso. Como tal, representa um substituto mais sustentável para as matérias-primas do PET virgem na produção de novas embalagens de bebidas. Em comparação com o PET virgem, o rPET tem uma pegada de carbono menor e implica 79% menos emissões de gases de efeito estufa.
No mínimo, uma única garrafa PET pode ser reciclada sete vezes, mas a capacidade de descontaminação significa que isso pode ser feito dez ou vinte vezes, ou talvez até mais.
Aumento da procura de plástico rPET
A procura líquida de PET na União Europeia (ou seja, os seus 27 estados membros) e no Reino Unido foi estimada em 5,1 milhões de toneladas em 2020, sendo que 3 milhões de toneladas vieram da produção de PET virgem, 0,8 milhões de toneladas de importações e 1,3 milhões de toneladas da produção de rPET. Os dados mostram um ligeiro desvio da produção de material virgem e das importações para a produção de rPET – com um aumento de 3,8% da produção de rPET e uma queda de 2,7% na produção de PET virgem.
Aproximadamente 54% de todos os produtos PET são garrafas de bebidas. Estima-se que 3,6 milhões de toneladas de garrafas PET foram colocadas no mercado da UE27 + RU em 2020, um aumento de quase 6% em relação a 2018.
De facto, a procura de rPET de qualidade alimentar (ou seja, que entram em contato com alimentos ou bebidas a serem ingeridos) para a produção de garrafas, excede a oferta. Haveria necessidade de uma expansão na capacidade de reciclagem (por exemplo, através da reciclagem mecânica avançada), bem como um aumento no fornecimento de garrafas PET recolhidas com qualidade suficiente para alimentar esta capacidade.
Criando plástico rPET de qualidade alimentar
Se o rPET for utilizado para produzir garrafas de bebidas, é essencial que cumpra as normas de qualidade alimentar. Aqui, normas e procedimentos rigorosos abrangem todas as partes do processo, desde a manipulação das garrafas PET a serem recicladas, até à manutenção das máquinas que irão desfazer e triturar as garrafas para serem transformadas em rPET.
“De forma a criar esse belo circuito de economia circular ao produzir rPET na União Europeia, precisamos de garantir que apenas 5% dos materiais de contacto não alimentar possam entrar no processo. E, precisamos garantir que as garrafas de plástico PET que reciclamos estão nas melhores condições possíveis antes de entrarem no triturador de garrafas”. – Frédéric Durand, Diretor da TOMRA Sorting em França
“Temos a responsabilidade de eliminar as impurezas. O rótulo é um contaminante. A tampa é um contaminante, embora este possa ser separado por tipo de polímero. Devemos também pré-lavar as garrafas, não só para eliminar os restos de bebida que possam conter, mas também para garantir que não haja nada abrasivo nelas, como areia ou mesmo pó. Estes agentes têm o potencial de afetar negativamente as lâminas do triturador muito rapidamente. E depois temos o próprio triturador. Precisamos de ter a certeza de que as lâminas estão a funcionar bem e que não há danos, porque, em última análise, queremos a maior consistência possível no tamanho e distribuição do granulado”.
Como é feito o plástico rPET?
O processo começa com a triagem das garrafas, sendo depois lavadas e secas, e os rótulos retirados, prontas para serem transformadas em flocos de plástico. São trituradas, peneiradas e triadas antes de serem submetidas ao primeiro controlo de qualidade. Quanto mais os materiais forem alvo de uma triagem precisa numa fase de pré-triagem e da fase de triagem de flocos, mais limpos são os fluxos de material criados (por exemplo, triagem de PET azul claro). As últimas tecnologias de triagem permitem esta separação e contribuem para a qualidade dos reciclados.
Uma vez concluída esta etapa inicial, esses flocos podem ter uma série de utilizações. A opção preferida para estes flocos é a reciclagem garrafa para garrafa. Outras utilizações incluem fibras, bandejas, tapetes ou outros produtos. Utilizar os flocos de garrafas para uma aplicação diferente é “downcycling”, o que significa reciclar os materiais num produto que não pode ser facilmente reciclado, deixando assim o ciclo de reutilização de recursos. Se a intenção é produzir garrafas de bebidas e atingir uma reciclagem em circuito fechado, há mais duas fases fundamentais.
Na fase dois, é iniciada a produção de plástico rPET. Num processo conhecido como “extrusão granulada amorfa” são feitas pequenas ‘pellets’ cilíndricos de plástico, medindo 2 mm por 6 mm (esta fase é normalmente exclusiva a embalagens como bandejas e garrafas, ou nalguns casos, fibras).
A fase final envolve o aumento da viscosidade do material para garantir que seja adequado ao uso pretendido. Por exemplo, as garrafas produzidas para água sem gás exigem uma densidade diferente daquelas produzidas para bebidas gaseificadas – estas últimas necessitam de um armazenamento adequado para a pressão mais alta resultante da gaseificação.
Esta parte do processo, e a descontaminação final, tem lugar num reator de vácuo durante um período de sete horas a 200 graus Celsius.
O papel dos sistemas de depósito e retorno na produção de plástico rPET
Um sistema de depósito e retorno (SDR), é uma forma de incentivar a devolução de recipientes de bebidas cobrando um pequeno depósito quando uma bebida é comprada, que é reembolsado quando o recipiente é devolvido para reciclagem. Os SDR são tipicamente implementados através de legislação governamental e existem atualmente cerca de 40 regiões em todo o mundo com SDR ativos.
A recolha de materiais através de um sistema de depósito e retorno pode ter uma série de benefícios. Antes de mais, um SDR pode ajudar a assegurar um fornecimento estável de materiais PET para ajudar a acompanhar a crescente procura global por rPET.
A TOMRA examinou os impactos dos sistemas de depósito e retorno de alta performance, destacando a sua capacidade de atingir taxas de recolha superiores a 90%. Quando são produzidas 100 garrafas de PET virgem, 90 dessas 100 garrafas são recolhidas e 208 novas garrafas podem ser feitas com conteúdo reciclado (assumindo uma taxa de reciclagem de 75% de todas as embalagens de bebidas em PET num sistema de ciclo fechado com múltiplos ciclos de renovação). Em comparação, nos mercados sem depósito, para cada 100 garrafas de PET virgem produzidas, 49 foram recolhidas e apenas 60 garrafas novas foram feitas com conteúdo reciclado.
Outra vantagem de um SDR é que os materiais tendem a ser mais limpos e de melhor qualidade porque são recolhidos separadamente, evitando impurezas de outros tipos de resíduos que poderiam torná-los mais complexos ou dispendiosos de reciclar. Frédéric Durand explicou que os materiais perdidos devido a impurezas aquando da recolha do PET através de um sistema de depósito e retorno, podem ser tão baixos quanto 5-6%.
Este nível de contaminação mínimo também significa que os materiais recolhidos e processados através de um sistema de depósito e retorno de (quando comparado com a recolha comum (através dos resíduos domésticos) assume um maior valor – os fardos de PET pós-consumo recolhidos desta forma valem cerca de 40% mais do que os recolhidos através de sistemas de resíduos domésticos.
Incentivo ao uso de conteúdo reciclado
O estabelecimento de valores mínimos de conteúdo reciclado para o PET enviaria um sinal aos mercados de que a procura por material reciclado seria consistente, o que ajudaria a estabilizar o seu valor. Vários mercados introduziram diretivas que estabelecem objetivos para a inclusão de conteúdo reciclado em garrafas PET.
Na União Europeia, a Diretiva de Plásticos de Uso Único (Single-Use Plastics Directive) incorpora mandatos de conteúdo reciclado para recipientes para bebidas em plástico, estabelecendo uma meta de 25% de conteúdo reciclado em garrafas PET até 2025 e 30% para todas as garrafas de plástico até 2030.
Na Califórnia, uma ambiciosa lei de conteúdo reciclado estabelece uma meta para que os recipientes de bebidas em plástico sujeitos a depósito incluam 15% de conteúdo reciclado até 2022, 25% até 2025 e 50% até 2030.
Um apetite crescente pelo plástico rPET
Basta olhar para algumas das maiores marcas do mundo para compreender a crescente importância e apetite pelo rPET.
As garrafas de água produzidas pela marca de água Buxton (uma subsidiária da Nestlé), sedeada no Reino Unido, são agora inteiramente fabricadas a partir de rPET, e a Nestlé Waters UK disse recentemente à Radio 4 que a mudança para o rPET está a contribuir para a redução das emissões de carbono em toda a cadeia de fornecimento.
Entretanto, a Coca-Cola anunciou que a sua água engarrafada Dansai, que é vendida nos EUA e Canadá, vai ser fornecida em garrafas 100% rPETaté ao próximo verão. A PepsiCo é outra marca que estabeleceu compromissos de rPET, com o objetivo de mudar as suas garrafas à venda no Reino Unido, para plástico 100% rPET, até ao final de 2022.
Proteção de recursos valiosos
“Naturalmente, as empresas vão querer comprar materiais ao preço mais baixo e também precisam de assegurar um fornecimento estável. Mas os produtores de bebidas estão cada vez mais conscientes de que seus consumidores e investidores estão mais conscientes do meio ambiente do que nunca e, sem dúvida que isso terá um papel na influência de sua abordagem”.
“Se queremos salvar os recursos do planeta, precisamos de usar o que produzimos. O PET é um material que realmente permite a economia circular, com potencial para ser reciclado repetidamente: transformar garrafas em garrafas, bandejas em bandejas, e fibra em fibra, tanto quanto possível. Quando as garrafas PET são transformadas em fibras, tapetes e outras aplicações, o material PET deixa de ser facilmente reciclável, dado que abandona a respetiva cadeia. A obtenção de circularidade nas fibras e bandejas também reduzirá a procura pelo uso de garrafas PET para essas aplicações”, explica Frédéric Durand da TOMRA. “As garrafas PET podem ser recicladas em garrafas novas, numa cadeia contínua, repetidamente. Para tornar isto possível à maior escala, precisamos de aumentar a nossa taxa de recolha e aumentar a qualidade do que recolhemos”.